Em 2018, depois de um término meio complicado, frequentei inúmeras sessões de constelação familiar, mesmo sabendo dos problemas ideológicos, mesmo tendo ouvido coisas das quais discordo muito profundamente, porque eu me interessava bastante em ver os padrões psicanalíticos das famílias, e porque eu também gostava da ideia de você se movimentar a partir de como você sente, e não do que você acha que deve fazer, o que era ótimo para uma pessoa como eu, que tende a se prender com frequência dentro da própria cabeça ― e, bom, convenhamos, né, eu estava realmente deprimido naquela época, constelação familiar não foi a única “cura alternativa” que procurei, então acho que nem preciso ficar me justificando tanto.
Pois bem.
Na última sessão que participei, tinham vinte e uma mulheres no grupo. E eu. E todas essas vinte e uma mulheres terminaram juntas a constelação, em um grande abraço coletivo, enquanto eu ― que interpretava, sei lá, o pai de alguém ― me escondia pelos cantos sentindo muita raiva e um peso terrível nas costas. Saí do lugar me sentindo péssimo, muito diferente de todas as outras vezes que fui lá, parecia que eu tinha entrado em uma chaminé imunda e saído coberto de fuligem, e nunca mais voltei. Não me arrependo de não ter voltado, acho que a constelação cumpriu o papel que precisava cumprir naquele momento e até hoje algumas cenas permanecem no meu imaginário, me ajudando a tentar quebrar algum padrão ou outro.
E aí o tempo passou.
Em 2019 lancei um livro e, em 2023, esse livro ganhou uma adaptação para o teatro e essa peça foi filmada e rolaram algumas exibições abertas ao público, em cinemas e centros culturais de Jundiaí, Santa Bárbara d’Oeste e São Paulo. Fui assistir à segunda sessão, em Jundiaí. Era um sábado, uma da tarde. E deviam ter umas cem pessoas na plateia. Pessoas que conheciam o livro, pessoas que tinham ouvido falar da peça pelas redes sociais, gente que só estava ali de curiosa. Na fala de abertura, Amanda Mantovani, a diretora geral, pediu para que eu me levantasse, o cinema todo bateu palmas, fiquei ao mesmo tempo tímido e vaidoso, quase chorei, aquela coisa, e a peça-filme começou.
Obviamente, fiquei muito emocionado. A peça-filme embarca em uma proposta totalmente delas, com soluções pensadas para o teatro, com três Mônicas ao invés de uma só, com enxertos e discussões que, de fato, refletem o grupo envolvido na produção, majoritariamente formado por mulheres e pessoas não binárias. Mas é bem fácil reconhecer minhas frases nas bocas das personagens, a premissa e a estrutura narrativa são as mesmas e muitas das viradas estão presentes no livro. Elas até encontraram espaço para humor, o que foi uma surpresa bem grande pra mim. E ver seu próprio nome em uma tela de cinema, nossa senhora, para uma pessoa cujo primeiro e-mail na vida, no já longínquo ano 2000, foi malucoporcinema@bol.com.br...
E aí aconteceu.
Cinco anos depois daquela fatídica noite na constelação, olhando para aquele grupo de mulheres e pessoas não binárias que construiu todo um movimento em torno de um texto que passei anos escrevendo absolutamente sozinho, eu me senti, enfim, dentro do abraço. Foi como tomar um banho morno, passar um sabão sobre as feridas e elas não arderem do mesmo jeito que ardiam antes. Um pequeno trauma se curou ali, e é impossível estimar um momento assim. Ele apenas é. E agradeço demais a todas que se envolveram neste projeto.
Agora, por que estou falando isso tudo agora? Porque, depois das sessões presenciais, a peça-filme será finalmente exibida ONLINE! Siiiiiiiiim. Mas, ó, preste atenção: as sessões só vão acontecer nos dias 22, 23, 25 e 26 de novembro, em dois horários, às 16h e às 20h.
Para assistir, você precisa se inscrever NESTE FORMULÁRIO AQUI.
não tem link na bio aqui, claro, esse card foi feito para o Instagram, inscreva-se no link que deixei marcado logo em cima da imagem
São 50 minutos de filme, então é bem tranquilo de ver. Inclusive, se você estiver na Flip, dá para se livrar de uma mesa chata e ainda voltar para rebolar a raba na pista de dança.
E, quando assistir, me conta o que você achou?
Um xêro,
Davi B.